Do cheiro das flores ao barro que tinge as mãos, as experiências ao ar livre fazem parte da formação integral das crianças. No cotidiano da Escola Ítalo, quando elas investigam a horta, observam o desenho das folhas, acompanham o trabalho das formigas ou escutam o zumbido de um inseto, não estão “apenas observando”: estão ampliando repertórios de linguagem, organizando o pensamento científico e aprendendo a cuidar do que é vivo.
Arlete Lopes, coordenadora pedagógica da Escola, destaca: “a natureza é uma sala de aula que convida à curiosidade e à autoria. Ao cheirar uma flor, a criança encontra palavras para descrever aromas e sensações, exercitando a linguagem de modo concreto. Ao manusear terra, areia e lama, coordena gestos, regula a força dos dedos, percebe texturas e temperaturas; esses pequenos ajustes no corpo sustentam, no tempo certo, competências como a escrita e o desenho. O que começa como um toque despretensioso vira pergunta: de onde vem esse cheiro? por que a folha é áspera? o que acontece quando regamos demais? Assim nascem hipóteses, registros, comparações e conclusões”.
Ela também explica que o contato frequente com ambientes naturais também favorece a atenção e o equilíbrio emocional. Em ritmos próprios as crianças aprendem a lidar com o tempo, com a frustração e com a alegria da descoberta. Ao compartilhar ferramentas, combinar turnos de rega e decidir juntos o destino de uma colheita, praticam cooperação, respeito e responsabilidade. No percurso, entendem que cada elemento tem função: a minhoca que areja o solo, a flor que atrai polinizadores, a folha que protege. Esse sentido de interdependência fortalece valores de cuidado e sustentabilidade.
Nosso trabalho procura integrar essas experiências ao currículo. A contagem de sementes, as medidas de água e solo, os diários de observação e os desenhos de padrões aproximam ciências, matemática, linguagem e artes, sem perder de vista o que a infância tem de mais potente: a curiosidade. Registramos em fotos o que os olhos descobrem e as mãos confirmam: narizinhos apurados para o cheiro das flores e folhas, dedos que desmancham torrões, pés que sentem a consistência da lama, olhares que mapeiam a horta e notam os detalhes das plantas e dos pequenos animais. Esses registros não servem apenas como memória; ajudam a criança a reler o próprio processo e a perceber o quanto aprendeu.
Cuidamos para que a exploração aconteça com segurança, sem podar a experiência. Preparamos os ambientes, identificamos possíveis riscos, ensinamos a lavar as mãos depois das atividades e, sobretudo, cultivamos o respeito aos seres vivos: observar, registrar e devolver. O adulto acompanha de perto, intervindo quando necessário, mas garantindo que a curiosidade conduza o percurso.
Ao naturalizar a presença da natureza no dia a dia escolar, renovamos um compromisso com a formação integral: corpo que sente, mente que pensa e coração que se responsabiliza pelo mundo que habita. A sujeira sai no banho, já o aprendizado, que nasce do cheiro das flores, da terra entre os dedos e da horta que cresce com a ajuda de todos, fica para a vida toda.